Seguindo um cronograma de temas propícios não só neste mês de março, mas necessários e oportunos para todo o ano, temos observado a interação e engajamento com muitas mulheres de vários espaços da sociedade sobre os assuntos por aqui abordados.
Antes de tudo... Síndrome da impostora? Caso você não tenha familiaridade com o termo, explico: a Síndrome do Impostor é o sentimento de ser uma farsa, quando desconfiamos de nossa aptidão para desempenhar uma função, é aquela voz interna que diz "vão descobrir que eu não sou boa o bastante para estar aqui" quando somos reconhecidos ou temos uma oportunidade no trabalho. E ela é extremamente recorrente entre as mulheres. Ouso dizer, inclusive, que com aparições mais ou menos recorrentes, a Síndrome da Impostora vem para todas nós.
Quando digo que é uma síndrome "que vem", não quero dizer que ela surge aleatoriamente sem motivo. Mulheres sofrem da Síndrome da Impostora com mais frequência porque temos lutado um lugar à mesa com esforço, como diria Sheryl Sandberg, porque sentar-se à mesa como iguais no ambiente corporativo não é algo natural, ensinado ou estimulado dentro do dito "universo feminino". Esse enfrentamento possui nome: patriarcado, que é a mesma maneira de se referir ao sexismo institucionalizado. Sexismo, esclareço, se assemelha à concepção do machismo, em que temos um gênero (masculino) maior e melhor do que outro (feminino). Porém, quando falamos sobre sexismo vamos além e nos referimos ao conjunto de atitudes e pensamentos que discriminam pessoas de acordo com seu sexo.
É preciso falar de teoria… Propositalmente falo sobre alguns conceitos teóricos, porque precisamos nos familiarizar com termos. Sabemos identificar mais facilmente o que previamente conhecemos, e só assim, podemos combater de forma assertiva. Tenho certeza que todos desejamos viver em um mundo melhor, onde existam oportunidades e segurança para todas as pessoas, independentemente de gênero, raça ou classe. E falar sobre essas questões, refletir e estudar nos ajuda a promover ações que gerem mudanças reais.
Voltando à Síndrome da Impostora, ela não surge à toa, mas porque a sociedade está constantemente exercendo forças sobre todas as mulheres: temos o sexismo, a pressão estética, a pressão social. Temos os estereótipos de gênero, os papéis que são esperados que nós desempenhemos, temos uma frequente imposição de padrões e pensamentos pelo simples fato de sermos mulheres.
E é com essa carga que as mulheres chegam ao mercado de trabalho. Dentro das empresas, por sua vez, as situações não são mais fáceis do que fora delas, e também existe uma série de problemas, como mansplaining (quando homens explicam coisas às mulheres de maneira condescendente), manterrupting (quando homens interrompem mulheres), desigualdade salarial, múltiplas jornadas, falta de mentoria, falta de sororidade, etc. Porém é necessário identificar algumas mudanças nesse cenário. E, além de todas essas dificuldades próprias de seu gênero, há também que pontuarmos a discriminação racial que sofrem as mulheres negras, nesse racismo estrutural de nossa sociedade. O Guedes Group, por exemplo, possui em seu quadro de colaboradores, 21 mulheres na gerencia de seus empreendimentos e 136 de mulheres desempenhando outras funções como vendedoras, caixas, estoquistas, auxiliares de serviço, secretárias, cozinheiras e etc. A Diretora Geral do Grupo Guedes, Leila Guedes, explica porque a empresa tem caminhado em uma outra vertente do mercado. “O Guedes Group há tempos investe em inovação. Observamos não o gênero dos nossos colaboradores, mas a capacidade técnica, emocional e suas habilidades como um todo. Aqui o ser humano é visto em sua essência e mais do que isso, se seus valores e habilidades são congruentes com os nossos. Isso tem nos transformado em uma empresa que investe em pessoas e não apenas em homens e mulheres, especificamente”.
E agora? Observar como as mulheres se comportam no mercado de trabalho e como a sociedade favorece tais comportamentos é fundamental para que possamos tornar o mercado (e o mundo) um lugar melhor.
Precisamos falar sobre teoria, trocar experiências, compartilhar aprendizados - não apenas entre mulheres, mas também entre homens. Todas as pessoas são responsáveis por tornar nossos ambientes de trabalho saudáveis, porque isso colabora para que as pessoas se sintam seguras também fora deles. Em seu perfil no Instagram, a mulher, mãe atípica ( é assim mesmo que ela escreve lá) e presidente da ASPAA (Associação de Pais e Amigos de Autistas), Jossely Oliveira, escreve um desabafo sobre o peso que mulheres carregam no desempenhar de suas funções e nas tantas outras que são obrigadas a desenvolver. “Além de todas as opressões que o machismo e o patriarcado impuseram a nossa existência, a crise sanitária piorou muito nossa saúde mental. Precisamos assumir e falar sobre isso. Precisamos assumir a luta pelo direito à saúde mental. Precisamos de suporte, de divisão justa do trabalho, de vacina e de emprego”, escreve ela. Ainda em seu texto, Jossely coloca a dificuldade de reconhecer-se capaz e ela própria admitir isso sobre si mesma. “Hoje eu me celebro como mulher forte. E é a primeira vez que digo algo do tipo. Só Deus, minha psicóloga e eu sabemos o quanto me custa enxergar isso em mim mesma. E escrevo com lágrimas nos olhos, como quem está numa sessão de terapia usando palavras em voz alta para dizer coisas que você nunca conseguiu dizer” diz ela.
Com falas como essas expostas aqui, fica claro que a conscientização é o único caminho para identificar o sexismo (interno e externo) e combater a Síndrome da Impostora, fortalecendo cada vez mais as nossas mulheres e as impulsionando para que sejam profissionais brilhantes - se assim quiserem! Até o nosso próximo papo!
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